DarkSide

Resenha: Circo Mecânico Tresaulti

30 maio


“O circo mecânico Tresaulti” da autora Genevieve Valentine foi um livro que me tirou totalmente da minha zona de conforto e me surpreendeu de forma positiva. O enredo traz um universo distópico devastado por uma guerra e em meio a todos os horrores um circo se mantém na estrada, mas esse não é um circo comum, alguns de seus integrantes tem partes do corpo substituídas por engrenagens, essas modificações são feitas visando que o número seja ainda mais belo e perfeito, levando alegria mesmo em tempos difíceis. A responsável pelo circo e pelas modificações é Boss, uma mulher imponente que sempre usa um vestido longo e casaco de lantejoulas.
“A ideia do homem-de-metal atrai o público, todavia, não posso negar. Toda vez que ando pelo que hoje chamam de cidade e coloco um cartaz em uma parede bombardeada ou outra, as pessoas saem de trás de suas portas trancadas só para darem uma olhada de relance.”
Todos os personagens são endurecidos pela guerra, todos trazem consigo uma bagagem emocional diferente e é no circo onde encontram refúgio e deixam de lado as atrocidades que precisavam fazer para sobreviverem a guerra. Aqueles que não são modificados costumam ficar por pouco tempo, mas aqueles que Boss dá uma nova vida eles seguem fiéis ao circo. Alguns possuem mais metais que os outros, tudo isso depende da forma como chegam ao circo e de acordo com os números que executam.
“Alguns momentos são infinitos e aterrorizantes, mesmo que deem certo no final.”
O foco principal são as relações que são construídas no meio circense e como as pessoas são afetadas pela guerra, moldando a forma como vêem a vida e os laços afetivos que irão estabelecer daquele ponto para a frente. O tema é bem dissecado e transporta o leitor para dentro da ambientação proposta, é possível imaginar o circo, o clima e seus integrantes com perfeição. Existe ainda, um certo suspense sobre uma perseguição ao circo, por uma pessoa que em grande parte do livro é denominada como “homem do governo”, que tem motivos obscuros para tentar encontrar o circo e Boss. Portanto, além de explorar bem os relacionamentos o livro traz ainda algumas cenas de ação bem dosadas.
“A maioria das pessoas não vivem o suficiente para ver o circo duas vezes. Estes são tempos exaustivos.”
Como mencionei no princípio dessa resenha esse é um livro que me tirou totalmente da minha zona de conforto literária, primeiro por apresentar três tipos de narrativas diferentes e segundo por não seguir uma ordem temporal exata. As narrativas a princípio me deixaram confusa, pois as mesmas não são alternadas em cada capítulo, por vezes vários capítulos são narrados em primeira pessoa e quando me habituava com a voz de repente o próximo capítulo seguia a narrativa em terceira ou segunda pessoa, por exemplo. Conforme avançava na leitura eu fui me habituando ao tipo de narrativa escolhida e já não sentia as transições drásticas demais, o mesmo aconteceu com o fato da ordem cronológica que alternava entre passado e presente, porém me senti mais confortável nesse ponto.
“... Ninguém quer ver você fracassar. Qualquer um pode fracassar. Eles pagam dinheiro pra nos ver fazer coisas que eles não conseguem.”
‘Little George” é o responsável pela narrativa em primeira pessoa, mas ao contrário do que se pode pensar ele nunca foi modificado por Boss e nem por isso ele deixa de ter uma conexão especial com Tresaulti e principalmente com Boss. É através das descrições dele que o circo ganha vida e cresce diante dos olhos do leitor. Ele é uma das poucas pessoas que permanecem por mais tempo no circo, ele ama tudo o que ele vive e se encanta com a magia de Boss, o circo pra ele tem um forte significado e faz todo o sentido ele ter sido escolhido como narrador.


Esse é um livro oito ou oitenta, é comum deparar com leitores ou que amaram ou que odiaram a leitura, eu me encaixo no primeiro grupo mesmo que a princípio tenha me sentido confusa, aos poucos fui me ambientando e compreendendo o estilo de narrativa e cronologia adotada. Quanto mais me via imersa ao universo apresentado mais fácil era de me aproximar dos personagens e ter uma visão mais ampla e bem construída do Tresaulti. Não vejo como indicar este livro a um público especifico, mas se você está procurando algo diferente e que apresente uma atmosfera circense apresentado em universo distópico acredito que “O Circo Mecânico Tresaulti” pode te surpreender.

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Aleph

Resenha: Pedra no Céu

23 maio


Isaac Asimov entrou para a minha lista de autores favoritos desde o momento que tive o meu primeiro contato com o livro “As cavernas de aço”, a partir daí me vi imersa em um universo de ficção cientifica que apesar da presença de alguns termos técnicos conta com enredos de fácil entendimento e com desenvolvimentos originais.  Apesar de não seguir a ordem cronológica exata de suas obras tenho me aventurado entre um livro e outro e, os resultados tem sido sempre positivos, como no caso mais recente “Pedra no céu” mais uma leitura prazerosa e altamente satisfatória.
"Foi então que levou o pior choque de todos, porque as folhas de algumas daquelas árvores estavam avermelhadas, e na curva de sua mão ele sentiu a natureza quebradiça de uma folha seca. Ele era um homem da cidade, mas o outono era algo que sabia reconhecer."
O protagonista desta história é Schwartz, um senhor já de idade que atravessa as barreiras do tempo involuntariamente e chega em uma Terra totalmente diferente da que estava habituado. O planeta agora já não é mais o único habitado da galáxia e ficou esquecido no tempo. Sua população foi drasticamente reduzida devido a radioatividade e o restante do Império Galáctico se quer considera que um dia a Terra foi a origem da humanidade. O idioma adotado também é diferente e quando um cidadão completa sessenta anos ele deve se entregar as autoridades para deixar de viver. Schwartz se vê perdido em meio a esse mundo agora desconhecido para ele e após uma andança encontra abrigo em uma fazenda.
"- Para o resto da galáxia, se é que notam a nossa existência, a Terra é apenas uma pedra no céu. Para nós é o nosso lar, e o único lar que conhecemos. (...)"
O fazendeiro que o abriga sem saber como estabelecer uma comunicação com o misterioso homem e por medo dele ser um espião, entrega-o ao cientista Shekt para que o mesmo possa realizar testes que terão resultados que irão mudar totalmente o rumo da história do planeta Terra.
Com uma narrativa fluida e leve Asimov envolve o leitor em um universo envolto de segredos, conspirações políticas e um romance singelo (vale ressaltar que esse está longe de ser o foco principal da história). A Terra não possui as características atuais devido aos efeitos da radiação. Na época em que o livro foi escrito, 1949, os efeitos da radiação em Hiroshima ainda eram amplamente discutidos e Asimov acreditava que a humanidade poderia sobreviver aos níveis de radiação, inclusive no posfácio ele pede aos leitores que coloquem suas descrenças sobre esse fato de lado já que não poderia mudar mais a história sendo que a radiação é um dos elementos primordiais do enredo. Posso garantir que indiferente a esse fato, essa é uma história que convence e ampliou ainda mais o meu interesse pela ficção cientifica.
Este é o romance de estréia e a base para a criação de uma das obras mais famosas do autor, a trilogia Fundação. Para quem tem curiosidade de conhecer um pouco sobre o universo que constitui o Império Galáctico este livro é uma excelente porta de entrada e se gostar dele sem dúvidas não irá querer parar de ler até chegar nos livros da Fundação.
A narrativa em terceira pessoa permite o leitor ter uma visão geral de pontos de vista distintos, o que enriquece ainda mais a experiência de leitura. Os personagens são bem compostos, interessantes e todos agregam valor ao livro.

Uma leitura agradável do início ao fim, que sem dúvidas valeu a pena ser feita. Mais uma leitura surpreendente acrescida a minha meta de 2017, não vou me estender mais sobre esse livro, somente indicá-lo a quem gosta de ficção científica e a todos que gostam de histórias com ação e cheia de reviravoltas.
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